quarta-feira, 20 de maio de 2009

Em destaque: Rodrigo Madeira

Rodrigo Madeira (Foz do Iguaçu, 1979)
Poeta. Vive em Curitiba desde 1992. Alguns de seus poemas foram publicados em revistas e sites literários. Gravou, juntamente com Tullio Stefano e Ricardo Pozzo, o cd de récitas Psiconáutica. Vencedor do Concurso Helena Kolody de Poesias- Categoria Paraná em 2006, com o poema infância. Em 2.007 seu poema O inseto recebeu menção honrosa no mesmo Concurso Nacional de Poesias Helena Kolody.. É autor do livro Sol Sem Pálpebras (Imprensa Oficial, 2007). E-mail – rmadbarbosa@hotmail.com ou rodrigomadeira79@gmail.com


Alguns Poemas de Rodrigo:

infância


e eu não sabia que minha estória
era mais bonita que a de Robinson Crusoé
.carlos drummond de andrade

o menino sem camisa empinava o sol
(a palma da minha mão é hoje a cartografia do exílio)

no retrato , a carranca dos avós: eternamente condenados
a fazer cara de moscou
(a palma da minha mão é a cartografia do exílio)

O menino, sólido e leve, não sabia crer: deus é uma fumaça
tão pesada...
(a palma da minha mão é a cartografia do exílio)

lançou a auréola no jogo de argolas
(a palma da minha mão é a cartografia do exílio)

o jardim da infância era o mundo. e o mundo, pequeno
como uma vila, não cabia no infinito
(a palma da minha mão é a cartografia do exílio)

os jardineiros dormiam mortos sob os caules do azul
(a palma da minha mão é a cartografia do exílio)

escreveu numa mensagem-de-garrafa-lançada-ao-mar:
o mar não existe!
(a palma da minha mão é a cartografia do exílio)

d’artagnan, se não deixasse richelieu para amanhã
levava sopapos da mãe
(a palma da minha mão é a cartografia do exílio)

iniciou-se em literatura comendo papel
(a palma da minha mão é a cartografia do exílio)

e o desejo maciço de lavar-se em bacia de osso
(a palma da minha mão é a cartografia do exílio)

a jangada seguia sobre um pântano de glicínias...
don juanito nos infernos, narcisando
(a palma da minha mão é a cartografia do exílio)

e também fumava escondido, de cócoras, e gomava
as asas de urtigas e flores de ipê
(a palma da minha mão é a cartografia do exílio)

ícaro obedecia a sua natureza de filho:
desobedecia ao pai
(a palma da minha mão é a cartografia do exílio)

e uma pêra nascia no limoeiro
(a palma da minha mão é a cartografia do exílio)

a segunda divisão panzer SS “das reich” de saúvas
carregava o chassis do louva-a-deus
(a palma da minha mão é a cartografia do exílio)

o menino passeava com seu cão imaginário
(a palma da minha mão é a cartografia do exílio)

à margem de teixos roendo-se em silêncio, especulava
as águas: iscara um anzol de nuvens para apenas roçar
o que foge, passarinhado...
(a palma da minha mão é a cartografia do exílio)

...................................................................

mas há de sempre trocar de pele e carnes,
pois seu corpo é sua estória...
(a palma da minha mão é o registro do que morro:
o menino me recomeça)


Foz do Iguaçu

r. do angico, das paineiras, acácias,
r. do cedro, das nascentes, pôr-do-sol...

estas ruas cresceram a dar em mim

e crescerão ainda mais, até fanarem,
morrerem
(não para outros).

estas ruas em que deixei,
menino de tudo,
cascas de ferida e medo de iodo.

Estas ruas que não me deixaram

- como negativos, entre outros,
em ventrículos da memória;
como curtas-metragens
projetados no lençol
que a mãe estendeu no varal à tarde.

ao verdor da relva e da vida,
o menino isolou a bola...

- eu é que não vou buscar

Um comentário:

Chris Herrmann disse...

Que bom conhecer melhor o trabalho deste grande artista.
Parabéns, Andréa, por trazer tantas preciosidades ao seu blog.
Beijos.
Chris.