segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Em destaque: Adriano Smaniotto

Nasceu em Curitiba-PR em setembro de 1975. Publicou os livros de poemas Arcano (Editora Ócios do Ofício, 1995); primeiro poeta a ser publicado na Coleçâo Sapatos Tortos (FCC, 1997); Regra de três (parceria com David Nadalini e Fernando Koproski (Editora Ocios do Ofício, 1998); Vinte vozes de uma mesma veia (Ed. do Autor, 1999) e Versejar a voz do ser é ser de si algoz (Fundação Cultural de Curitiba/Imprensa Oficial do Paraná, Curitiba, 2000).

Alguns Poemas do autor:

nasci em uterina.
meu pai: um sêmen intrometido.

nenhum trauma
a não ser o fato do dono do meu pai
se zangar por eu lhe chamar avô
e a rainha de lá insistir que eu devo lhe respeitar

me graduo em poesia
stricto sensu: cacto doutor.

ganho e levo a vida
como este abarrotado de estranhos
vindos de curitiba, nova iorque, rei-na-barriga
cheios de explicações e famílias

talvez por não tê-las
é que me ocupo a jorrar estes seres parecidos com papai

dia desses
numa uterina
que segundo a polícia
não era a minha
sua dona
imaginem
gemia
e insistia
pra eu ficar

*

fui eu quem guardou
as manhãs dos soropositivos
e dos outros filhos deste caos

estão comigo...
se não as encontro
então os sãos
insistem em continuar sorrindo

quem puder sair de seu almoço
com arrotos de tudo bem
tudo bem coma como um porco
tudo bem coma coma um porco
só não venha me dizer que é poeta

o vício da poesia implica algumas abstinências:
de focinheira
de linhas
de vida

essa/ poucos ouvidos sensíveis, nem nos quer


fui eu quem tentou apreciar o prazer dos verbos
ganhei no lugar vãs filosofias e uma única razão:

fui eu que inventei o mundo que chamam mal-estar.

*

elas sempre ficam mais belas depois do fim.
daí revelam as mentirinhas dissimuladas.

nada de mais se você não for daqueles
que se matam perdida a primeira
azar se acha que besteiras de vidas falidas a dois
são pra colecionar

vai, ferido, e aprende a namorada
que são os livros

no silêncio sem amigos
urgem úteis conselhos

ouve: amor - mútuo egoísmo!

*

patrícia claudino das vísceras
filha legítima da dor
que falta de amor nos faltou?

foi em vão esperar pêlos brindes,
os anos não nos medicaram

pede, por favor, poeta,
à mãe sublime
que me dê seio
família em teu lar

patrícia claudino das vísceras
quem nos roubou chama-se paz!
De balé mal resolvido)

*

quando cantares tua dor em poemas,
chama-os por números,
que é melhor teres no fim
uma soma ou teorema,
que sinônimos.



1.

considera as linhas por mim escritas
como um roubo à energia do sol
um convite a escurecer o dia

no enfim de religar-me ao só
iniciei uma multidão de apatias.
versejar a voz do ser é ser de si algoz

2.

tolos nós fazemos versos.
velhos e novos
os outros se interessam por ouro.

da prata o que temos é um prato frio
ou a leve semelhança destas palavras.
é pra poucos ser vazio

*

tudo que for lírico em mim
terá um fim de laço.
depois é claro um invólucro de cetim

porém como enforcar e embrulhar
o ar o sangue a lástima o líquido
que insistem em coabitar um lírico?

*

não me queira pros teus dias
ainda que tenhas tudo preparado.
o meu mundo é de besteiras

repleto de ciências destrutivas
estou restrito a construir poemas
como quem odeia a ausência e depois cativa

*

agora que você namora
e já não desrespeito meus rivais
entre ais pergunto ao espelho:

pra qual amor amadureço,
se amo como quem vai embora
e indo vou olhando para trás?
(De Diário da dor dos dias)

Poemas extraídos de PASSAGENS. Antologia de poetas contemporâneos do Paraná. Seleção e apresentação de Ademir Demarchi. Curitiba: Imprensa Oficial do Paraná, 202. 428 p. (Col. Brasil Diferente.)
Fonte: Site Antonio Miranda

4 comentários:

Altair de Oliveira disse...

Maravilha!!! Bom demais poder ler aqui os poemas do Adriano! Não o conhecia, a primeira vez que o vi foi no sarauzinho da bienal. Parecia uma espécie de Durango Kid daquelas cenas de fim de filme de velhos faroestes, meio cambaleando no tablado, empunhava uns trôpegos tropos vai ver... Mas quando o cara atirou não perdia uma! Sua poesia deixou as musas ilhadas e com mar pelas virilhas!

Unknown disse...

Um legítimo rulador.
Tive a honra de ter aulas com o Adriano.
Manjava muito de português e de música.
Pena que a reciclagem do detran impediu nossas aulas por 3 semanas.

Um abraço professor.

Telg disse...

acho que quando conheci esse poeta eu ainda era muito moleque... agora que também tento ser poeta, ter sidumdia moleque me rói, me rói...

Anônimo disse...

Tenho o prazer de ver ao menos 2 vezes por semana esse poeta, que além de poeta é um grande professor pra ser sincero um dos melhores que ja tive, um abraço biro-biro. rs

Fernando Carlos 3°C (Alfredo Parodi)