sábado, 17 de abril de 2010

Poetas paranaenses e suas poesias.

PAULO ROBERTO KARAM — Nasceu em Curitiba, Paraná, em 12 de fevereiro de 1941, filho de José Karam e de Lilie Karam. Cursou o curso de História Natural na Universidade Federal do Paraná, licenciatura plena, o que lhe permitiu lecionar Ciências no Primeiro Grau e Biologia no Segundo, tendo se aposentado do Magistério na Rede Estadual de Educação, em 1996. Desde 1986 empreende pesquisa literária no gênero de Poesia, partindo de poetas do Paraná e atualmente abrangendo poesia em língua neo-latina, com exceção do romeno. As poesias que fez são anteriores a 1971, representando suas aspirações de adolescente. Casou-se com Terezinha Isufina Corrêa e têm três filhos, com formação universitária e oito netos. Pertence ao Centro de Letras do Paraná e à Academia Paranaense da Poesia, onde ocupa a cadeira número 36, patrono Raul Faria.

PESADELO
© PAULO ROBERTO KARAM

O frio das estepes me invade,
e minha alma se enregela,
e eu em busca da claridade
e do calor que me vem dela.

Ando pela estepe infinita – vagando
não sei por onde vou, talvez,
ao sabor do vento, cavalgando
como um fantasma chinês.

E como um cavaleiro quirquiz
ergo minha tenda no Altai
esperando quem já me quis.

A estepe é uma vida insane,
onde me acho a vagar. Infeliz,
em busca de uma sombra que me ame.


DEISI PERIN — Toledana de nascença.
Italiana por ascendência.
Humana por herança.
Ecológica por natureza.
Sangue verde-amarelo.
Pensamento nas nuvens
e dificuldade de tirar os pés do chão.
Formada em Letras, Inglês - Português pela UFPR.
Professora.
Membro do Centro de Letras do Paraná.
Participante das Oficinas de Criação Literária.
Integrante do Grupo Pó&teias.

APESAR
© DEISI PERIN

Apesar de o sol
ser a estrela do centro do Sistema Solar,
na fraca faixa de luz
através do céu noturno, habitamos.
Entre estrelas e nebulosas
passeamos os dias na Via Láctea
e preferimos astros artificiais
e luzes frias e solitárias.
Giramos em meio à poeira cósmica
sem atingir o núcleo.
Apenas conhecimentos elípticos
à velocidade do som
nos aproximam das constelações.
E quase sentimos
os hemisférios juntarem-se.
Mas a composição atmosférica
não tem energia suficiente para interagir.
Então emitimos
fracos raios espectrais sem cor, nem calor.
E brilhamos pouco e sozinhos
em nossas próprias estrelas.


MAMED ASSIM ZAUITH — Natural de Barretos, Estado de São Paulo, atualmente vive em Curitiba - PR. Desde jovem mostrou paixão pela literatura, poesia e música, tendo estudado música clássica e violino. É Geógrafo, formado pela Universidade Federal do Paraná, bacharel em Direito, Pedagogo, com pós-graduação e especialização em metodologia de ensino superior. Exerceu a docência nas redes pública e privada e na Universidade Federal do Paraná. Foi homenageado pelo Rotary Club de Curitiba e pela Câmara Municipal de Curitiba, pelos relevantes serviços prestados em prol da educação e da cultura. É membro efetivo do Centro de Letras do Paraná e ocupante da cadeira nr. 38 da Academia Paranaense da Poesia, que tem por patrono Eno Teodoro Wanke.
Para ele, o poeta é um sonhador, cuja alma perscruta a imensidão do Universo, pintando em ricos matizes, enternecedores poemas, esculpindo frases, burilando estrofes as mais sentidas e, sobretudo, dando aos versos, sublime encanto de comovente e excelsa ternura!

MÃE
© MAMED ASSIM ZAUITH

Quantas vezes, vossas foram nossas dores,
quantas vezes, de mãos postas rogastes,
em prece súplice orastes
ouvindo o silêncio da noite!
Vossa voz doce e meiga
é acalanto e berceuse,
vossa aura de pureza
é nossa inspiração!
Guardais a renúncia do mártir,
a coragem dos heróis,
a bravura do indômito,
a sabedoria dos filósofos,
a sensatez dos justos,
a resignação dos humildes,
a generosidade dos nobre!
Quantas vezes suportais as chagas
poupando nossas dores.
Carregais a cruz
para não galgarmos o calvário.
Ajoelhais
para andarmos de pé.
Tributais lágrimas
para que nos alegremos.
Chorais
para sorrirmos.
Sentis frio
para dar-nos calor.
Secais vossos lábios
saciando-nos a sede!
Perdoando...
sois clemente e generosa.
Protegendo...
austera e inflexível.
Abençoando...
angelical e santa.
Educando...
exemplo e doação.
Sois estóica na virtude,
inexorável na fé,
inabalável na esperança!
Vosso terno afago
tem o ciciar de brisa;
o farfalhar da ramagem,
o remansear do regato.
Sois a chama, sois a vida,
à vossa volta, tudo se altea,
se ilumina.
Sublima e alcandora.
Resplandece!
Que nossas lágrimas de gratidão
rolem a vossos pés
e subam aos céus,
em forma de oração!


IVY MENON — Nasci livre. Cresci solta no mato. Aos cinco, aprendi capinar e plantar milho; aos seis construía e armava arapucas; aos sete manejava estilingue e anzóis; e aos oito, subia em coqueiro para derrubar palmito, em meio as cobras e lagartos, tatus, pombos, frutas, mel... Eu era mesmo jacu e, do mato, plantava e colhia o alimento, preparava meu próprio prato. E sonhava com palavras. Sempre fui livre (até para se submeter é preciso ser livre). Mais velha de sete irmãos, aprendi a ter cuidados e cantigas de ninar, brincar de esconde-esconde, boi de bucha, carrinho de mão ou rolimã, e a dançar, sapatear, se preciso fosse... eles riam, dormiam em meu colo e, assim, mamãe podia catar algodão naquele mundão de meu Deus, e os quilos colhidos, recolhidos, pesados, medidos, depois, vendidos, eram transformados em comida e alegria. E eu era tão livre! Fui à escola, aprendi a ler, embora papai dissesse: "até a quarta série, está bom". Livre, amei livros e, neles, busquei fantasias, as histórias de lobisomens sacis, jibóias e sucuris bichos dos infernos em volta, fora e dentro, protegendo a floresta (medo de fogo...) Antes de os ler, me pertenciam. Meus os livros, eu dei a eles minha sina: escrever, apesar da lida, do trabalho, do sustento da família (a enxada, presente de aniversário de oito anos, achei o máximo). Todo aquele chão pela frente; todo aquele céu para cima... e, na volta para casa, a imensidão do rio com varinha de pescar. Sim, sempre fui livre... aos quinze menstruei; aos dezesseis, primeiro beijo, então, me vi mulher! Papai, herói, derrubava no machado a mata atlântica. No braço. De repente, virara "o Gato": agenciava bóia-fria, e aos trabalhadores distribuía, nos fins de semana, a paga, mas aos filhos não, dizia: "primeiro os dentes, depois, parentes" Então, eu e meus irmãos - absolutamente livres da fome, inclusive - comíamos arroz e cebolinha sentados no chão ao redor da panela, uma colher só, repassada de mão em mão, e como no templo, repartido o pão, a comunhão e papai a comer salame, a tomar cerveja, e brindar a saciedade (tinha tantas namoradas!!!)
Sempre sonhei, livremente, a cantar la traviatta ou la bella polenta ou um noturno de Chopin ou Camaleoa, de Caetano ou o piano de Jobim ou, de mim, a amar Chico Buarque, ídolo, absoluto... Me dei ao luxo de tirei dez. Muitos dez fui na escola: dez em olimpíada, dez em matemática. E física quântica era o que há. E poesia meu dia-a-dia. Aos vinte, deixei a roça e a enxada. Apropriei-me, definitivamente, da caneta e tornei-me jornalista. Marido morto, escolho o feijão ao sonho. Burocrata, ganho bem e sustento nove bocas e desta lista consta eu, a que segura a barra de tantos. Formei-me em Ciências Jurídicas. Admiro as Leis. Quero administrá-las. Mas escolhi ser Mestre em Filosofia. As Letras me fascinam.
Como poeta, tímida, escondi meus versos. Eu os tinha apenas para mim. Engavetava-os. Isso, até quando deixei de temer os homens e os apresentei em varais, cartões postais, bilhetes de amor e, modernizada, globalizada, postei-os nos sites e orkuts. Ousei participar de um concurso. Voei alto: a Academia Brasileira de Letras era parceira. O Palco da ABL o dia "D". Venci. Meu primogênito "Flores Amarelas" foi o prêmio. A academia de Letras de Maringá, meu sonho. Agora, além de livre, é meu o direito de ser eu mesma: ando de patins, corro pela praia, ainda subo em árvores... rio dos meus próprios erros... Continuo livre, presa apenas às mãos pequeninas dos netos em minhas saias.

AUSÊNCIA
© IVY MENON

Não. Não penso em homens.
Meu corpo esvaziou-se de sonhos.
As madrugadas insones lembram-me nomes.
Como quando se caminha de noite
e se distancia das luzes até que, antes da curva da estrada,
elas se tornem apenas vaga-lumes tontos no horizonte.

Não. Não há o que me console, lá atrás.
Não é possível, gritando nomes,
resgatar a alma que se desgarrou de mim.
E vaga-lumes fogem da alva.


LUIZ EDUARDO GUNTHER — Nasceu em Concórdia - SC em 03.03.54. Reside em Curitiba - Paraná. Graduou-se em História e Direito pela Universidade Federal do Paraná, onde também obteve os títulos de Mestre e Doutor. É professor do Centro Universitário Curitiba-UNICURITIBA, desde 1987, onde leciona na graduação, especialização e mestrado. Também é desembargador federal do trabalho perante o TRT da 9ª Região. Integra a Academia Nacional do Trabalho e o Instituto Histórico e Geográfico do Paraná. É autor de diversas obras na área Jurídica.

O INSTANTE DO OLHAR
© LUIZ EDUARDO GUNTHER

Há um espaço vazio
naquele olhar
que viaja,
e contempla.
e espera.

De repente, encontra
outro olhar
perdido...
e os olhares
se buscam
e se acham.

O instante
fez-se poema
com olhares apenas.

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