terça-feira, 1 de junho de 2010

O Cenário Literário Curitibano perde violentamente o escritor Wilson Bueno

Escritor Wilson Bueno é morto em Curitiba.
Autor de 13 livros, paranaense foi assassinado durante suposto assalto a sua casa, no bairro Santa Cândida.
A polícia encontrou morto, no início da noite de ontem (31/05), o escritor paranaense Wilson Bueno, 61 anos, em sua casa no bairro Santa Cândida, em Curitiba. Há indícios de que ele foi morto durante um assalto. Autor de 13 livros e criador do jornal cultural Nicolau, Bueno foi mais uma vítima da violência em Curitiba no mês de maio

Ex-editor do Nicolau, escritor se impôs usando estilo e texto
A literatura de Wilson Bueno era extremamente engenhosa e erudita. Muitos a achavam cerebral. Gostava de criar suas narrativas a partir de referências como Machado de Assis e o checo Franz Kafka. Era um escritor que se impunha pelo estilo, conhecido pelo tempo e pelo esforço que empregava ao burilar seus textos.

Antes de construir uma bibliografia respeitada, com 13 títulos publicados no Brasil, México e Argentina, Bueno chamou atenção no final dos anos 1980 como editor do Nicolau (1987-1995). A publicação abriu espaço para artistas do Paraná e de outros estados, apostando em autores que não tinham espaço em lugar algum. Eram escritores, poetas, cineastas e artistas plásticos que deram passos importantes no jornal.

Bueno estreou na ficção com Bolero’s Bar (1986). Mar Paraguayo (1992), que alia português, espanhol, guarani e portunhol, levou a obra Bueno ao exterior.
Uma mudança importante na carreira veio em 2004. Foi quando passou a publicar pela gigante Planeta. A estreia na nova editora foi com Amar-Te a Ti Nem Sei Se Com Carícias, todo escrito em português do século 19, uma homenagem a um dos escritores que mais admirava, Machado de Assis (outro era Guimarães Rosa). As fábulas de Cachorros do Céu, seu título seguinte, o colocaram entre os dez finalistas do Prêmio Portugal Telecom, um dos mais importantes do país.
Em A Copista de Kafka, o escritor escreveu uma série de contos independentes à primeira vista, mas que, juntos, criam um painel amplo e o aproximam do romance. Bueno havia entregado os originais de seu trabalho mais recente para a Planeta, uma narrativa que mistura memórias e ficção. “É o meu livro da maturidade, minha obra mais importante”, disse.

Bueno foi uma das vozes mais influentes do Paraná
Wilson Bueno era uma pessoa “turbulenta” e reclusa, mas divertida

O escritor José Castello via Wilson Bueno como uma pessoa inquieta, de temperamento forte, “turbulento”. Para o chargista do jornal O Estado do Paraná, Luiz Antônio Solda, amigo desde a década de 70, Bueno era solitário e andava recluso. Rogério Pe­­reira, editor do jornal Rascunho, acredita que, pelas primeiras impressões, tratava-se de uma pessoa divertida e bem humorada. Várias são as visões da personalidade de Wilson Bueno. Sua literatura, no entanto, é unânime: uma das mais importantes do Paraná.
Bueno nasceu em Jaguapitã, no Norte Central do Paraná, em 1949, mas adotou Curitiba para morar. Começou a escrever aos 13 anos, quando foi convidado a redigir crônicas dominicais para o jornal Gazeta do Povo.Aos 18 anos, foi ao Rio de Janeiro, onde trabalhou para o Jornal do Brasil e a Tribuna da Imprensa. De volta ao Paraná, criou e editou por oito anos o jornal Nicolau. É autor de Bolero’s bar (1986), Manual de zoofilia (1991), Amar-te a ti nem sei se com carícias (2004) e Cachorros do céu (2005). “A literatura se confunde com a minha própria percepção da vida e do mundo. Acho que minhas primeiras palavras, minhas primeiras expressões frente à decifração do mundo foram literárias. É curioso”, disse Bueno, em dezembro de 2006, durante o sétimo encontro do projeto Paiol Literário, realizado em parceria entre o Rascunho, o Sesi Paraná e a Fundação Cultural de Curitiba.
Para o jornalista Rogério Pereira, a obra de maior projeção de Bueno é Mar Paraguayo, livro escrito em 1992 em “portunhol”. Bueno tentou uma reprodução da linguagem dos hispânicos que vivem no Brasil, disse ao jornal Rascunho.
Outro trabalho de destaque de Bueno foi o jornal Nicolau, considerado o Melhor Jornal Cultural do Brasil pela Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA), em 1987. Ele também era cronista do jornal O Estado do Paraná, da revista Ideias e colaborador do caderno cultural do jornal O Estado de São Paulo. Escreveu para a Gazeta do Povo quando tinha 14 anos. “É que a Gazeta tinha uma página literária e, nela, já pontificava Dalton Trevisan, com seus 45 anos. Na época, ele já começava a se tornar um grande nome literário”, disse Bueno durante o Paiol Literário.
O escritor José Castello afirma que Bueno era um autor muito envolvido com a vanguarda, a experimentação. “Era um cara inquieto como escritor. Os livros dele são muito diferentes um dos outros, sempre buscando coisas novas” diz Castello. “Ele também era cronista, poeta, fazia poemas curtos à moda japonesa. E teve essa passagem muito importante na história da imprensa literária, que foi o período longo (oito anos) que editou o Nicolau.”
Castello classificou a morte do amigo como algo odioso e abominável. Solda, chargista de O Estado do Paraná, morava perto de Bueno, mas não teve coragem de ir até a casa do amigo, local da morte. “É uma coisa muito dolorida.”

Bibliografia
Confira lista com os livros publicados de Wilson Bueno

Bolero’s Bar (Curitiba: Criar Edições, 1986)
Manual de zoofilia (Florianópolis: Noa Noa, 1991)
Ojos de água (Argentina: El Territorio 1992)
Mar paraguayo (São Paulo: Iluminuras, 1992)
Cristal (São Paulo: Siciliano, 1995)
Pequeno tratado de brinquedos (São Paulo: Iluminuras, 1996)
Medusario – mostra de poesia latinoamericana (México: Fondo de Cultura Econômica, 1996)
Jardim zoológico (1999)
Meu Tio Roseno, a cavalo (São Paulo: Editora 34, 2000)
Once poetas brasileños, de 2004
Amar-te a ti nem sei se com carícias (São Paulo: Editora Planeta, 2004)
Cachorros do céu (São Paulo: Editora Planeta, 2005)
Diário vagau (Curitiba: Travessa dos Editores (2007)
Pincel de Kyoto (2007)
Canoa Canoa(2007)
A copista de Kafka (São Paulo: Editora Planeta, 2007)
Fonte: Gazeta do Povo.
Foto: Arquivo Gazeta do Povo

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