sábado, 2 de abril de 2011

Paulo Venturelli no Museu Guido Viaro

O Museu Guido Viaro (R. XV de Novembro, 1.348) promove a Semana Literária, de 4 a 9 de abril. A cada noite, a partir das 20 horas, autores participam de bate-papos e/ou performances. Na segunda-feira, dia 4, o escritor Paulo Venturelli faz uma palestra sobre literatura e dialogismo. A entrada é franca. Confira a programação completa.
Paulo Venturelli, nasceu em Brusque, no Verde Vale do Itajaí, de uma família de operários. Em 74, transferiu-se para Curitiba, onde formou-se em Letras, pela UPFR. Na mesma universidade fez seu mestrado. Com a tese "Homoerotismo e literatura em circuito fechado - Adolfo Caminha e Silviano Santiago", doutorou-se pela USP no ano de 2001. Tem vários livros publicados, entre os quais se destacam: Admirável ovo novo, O anjo rouco, A casa do dilúvio, No vale dos sentidos, Introdução à arte de ser menino (Prêmio Cruz e Sousa, 1996, da Fundação Catarinense de Cultura). A câmara municipal de Curitiba concedeu-lhe o Prêmio Medalha de Mérito Fernando Amaro, em 1999, pelo conjunto da obra. No prelo, está seu novo livro de contos Fantasmas de caligem.
É autor dos livros Admirável ovo novo, O anjo rouco, A casa do dilúvio, No vale dos sentidos, Fantasmas de Caligem entre outros. (Foto: Marcelo Elias/Gazeta do Povo)

Do autor:
POEMA IV

Flutua no ar um resquício de alguma coisa nunca sugada
de todo. Entre os lábios, pendurados no fio da hora,
rasteja um molusco, cujas escamas tecem a umidade do
ar e bloqueiam na boca qualquer lugar para a vinda do
sorvedouro. E o molusco desdobra-se num aparato de
retículas e aí é difícil distinguir a figura. O que é a figu-
ra já se desvanece? se totalmente soçobra na antecâmara
do apagamento? O que flutuava no ar não vinha de outro
planeta, não era trajetória de promessa. Era apenas a
mandíbula de um tigre chamado tempo. E todos sabem:
as feras têm fome, elas tudo devoram.

POEMA XXI

A rua roí rabiscada por olhos sem noite de descanso,
olhos com semente de escuridão no ritmo do jazz. Apu-
rando bem os ouvidos, poros e lábios, é possível absor-
ver o tracejado do som e recolhê-lo para amanha, quan-
do, segundo os profetas, o deserto será nosso habitat,
nossa condição de herança. A rua em desenho sinuoso
bebe do céu uma cor pós-chuva. Outra vez precisamos
burilar nossos canais de captação e reservar a tonalida-
de, pois, conforme ditam os tratados, estaremos todos
carentes de significados no tempo do fim, naquela cur-
va, naquele poço, todos necessitados de guardar a viola
e buscar outras praças, quem sabe, remendar os olhos
que rabiscaram a rua, forjar o ritmo do jazz com nossos
dedos bebedores de nuvens.

Extraídos de: a morte
Rio de Janeiro: 7 Letras, 2006
ISBN 857577348-8

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