quinta-feira, 5 de maio de 2011

05 de maio: Dia da Língua Portuguesa e Cultura

Trabalho e pesquisa de Carlos Leite Ribeiro.

Hispania, Portugal e a Origem da Língua Portuguesa

Hispânia foi o nome dado pelos antigos romanos a toda a Península Ibérica (Portugal, Espanha, Andorra e Gibraltar) e às duas províncias criadas posteriormente durante a República Romana: Hispânia Citerior e Hispânia Ulterior. Durante o Principado, a Hispânia Ulterior foi dividida em duas novas províncias: a Bética e a Lusitânia, enquanto a Hispânia Citerior foi rebaptizada para Tarraconense. Mais tarde, a parte ocidental da Tarraconense foi desanexada, inicialmente como Hispânia Nova, e mais tarde rebaptizada para Callaecia (ou Galécia, praticamente correspondente à actual Galiza). Durante a tetrarquia de Diocleciano (284 d.C.), o sul da Tarraconense foi desanexado para constituir a província Cartaginense. O conjunto de todas as províncias hispânicas formavam uma única diocese civil, sob a direcção do vigário de Hispaniae, cujas competências se estendiam também à Mauretânia Tingitana (ao redor de Tânger) que, portanto, eram oficialmente consideradas 'hispânicas'.
A ocupação romana teve início a 218 a.C. com o desembarque dos Romanos em Ampúrias e terminou em meados do século V d.C., altura em que toda a península assistiu à invasão dos Suevos, Alanos e Vândalos e, mais tarde, dos Visigodos. Ao longo de todo este período, tanto os povos como a organização política do território sofreram profundas e irreversíveis mudanças, e a Hispânia converteu-se numa parte fundamental do Império Romano, proporcionando-lhe um enorme caudal de recursos materiais e humanos, ao mesmo tempo que foi uma das regiões mais estáveis do Império.

Com grande parte da península já fora do seu controlo, o Imperador Romano do Ocidente, Honório (r. 395-423), encarregou a sua irmã, Galla Placidia, e o seu marido, Ataúlfo, o rei visigodo, de restaurar a ordem, concedendo-lhes o direito de se instalarem na península contribuindo, para isso, na defesa e manutenção da região. Os Visigodos conseguiram subjugar os Suevos e expulsar os Vândalos, que migraram para o Norte de África. Em 484, estabeleceram Toledo como capital. Note-se, portanto, que a ocupação visigótica não constituiu, de forma alguma, uma invasão propriamente dita, já que este eram, inclusive, assistidos no governo por hispano-romanos, e o latim permaneceu a língua oficial.
O Cristianismo, introduzido logo no século I e doravante sustentado como religião oficial do Império Romano, tornou-se fundamental durante a ascendência visigótica, já que a Igreja permitia a coesão dos povos.

Início de Portugal

Conde de Borgonha, o Bom, fundador da monarquia portuguesa, por ter sido pai de D. Afonso Henriques, 1.º rei de Portugal. N. em Dijon em 1057, data que se considera mais provável, e fal. em Astorga em 1114. Era o 4.º filho do duque Henrique de Borgonha e de sua mulher, Sibila, neto de Roberto I, duque de Borgonha-Baixa, e bisneto de Roberto, rei de França.
Quando em 1086 as notícias da guerra contra os muçulmanos chamaram a alistar-se debaixo das bandeiras de D. Afonso VI, rei de Leão e de Castela, os príncipes dalém dos Pirinéus, o príncipe Henrique veio para Espanha na companhia de seu primo Raimundo de Borgonha, filho do conde Guilherme de Borgonha, irmão de sua mãe. Os dois príncipes granjearam grande reputação pelo seu valor nas guerras em que entraram, e em prémio dos serviços prestados, D. Afonso VI casou sua filha D. Urraca com Raimundo, e D. Teresa ou Tareja, filha bastarda, com D. Henrique. Em 1093 D. Afonso atravessou o rio Mondego, tomou Santarém, Lisboa e Sintra, dilatando assim o domínio cristão até ao rio Tejo. Como o ocidente da península hispânica formava um domínio já bastante extenso para que os seus chefes pudessem lembrar-se em se tornarem independentes, pensou em delegar o seu poder para esses lados num homem de confiança. Fez pois de Raimundo conde soberano de Galiza, e de Henrique governador do condado de Portucale, sob a suserania de Raimundo. O território entre o Minho e o Tejo compreendia então três territórios o condado de Portucale, que ia do Minho ao Douro; o de Coimbra, do Douro ao Mondego; e o novamente conquistado aos sarracenos, do Mondego ao Tejo, de que D. Afonso fizera governador Soeiro Mendes, com a sede do governo em Santarém. Este território foi retomado pelos moiros logo em 1095. e parece que este desastre contribuiu para que D. Afonso VI libertasse o conde D. Henrique da suserania de seu primo Raimundo, porque em 1097 já governava independentemente o seu condado, e em 1101 encontrava-se na corte do rei de Leão e de Castela. Estavam, portanto, sossegadas as fronteiras de Portugal, e os muçulmanos, concentrando todos os seus esforços no oriente da península e nas fronteiras de Castela, contentavam-se no ocidente só com a posse de Lisboa e de Sintra, que por esse lado limitavam o seu império já tão disseminado. Vendo a Espanha quase tranquila, procurou o conde D. Henrique outro campo em que pudesse empregar a sua irrequieta actividade. Seduziu-o, como a tantos outros príncipes, o movimento das cruzadas. Entre os anos de 1102 e 1104 continuas expedições demandavam a Terra Santa, e D. Henrique, nos primeiros meses de 1103 partiu para o Oriente, donde voltou em 1105, sem que a historia faça menção dos feitos que praticou, o que se explica por ele ter partido mais como simples voluntário, do que como chefe dalgum poderoso contingente. Desde essa época envolveu-se nas intrigas que tinham por fim ampliar o território que dominava. e conseguir tornar-se independente. Continuando a guerrear os moiros, conquistou-lhe mais terras, vencendo o régulo Hecha e o poderoso rei de Marrocos Hali Aben Joseph. Excelente guerreiro, sábio e prudente administrador, aumentou consideravelmente as terras do seu condado, merecendo o cognome de Bom, que a historia lhe deu. D. Afonso VI não tinha filho varão legítimo, por conseguinte Raimundo, marido de D. Urraca, esperava receber a herança, mas o monarca mostrava-se tão afeiçoado a seu filho natural D. Sancho que se receava que lhe deixasse a coroa em testamento. Prevendo este caso, e dispondo-se a anular o testamento pela força, pediu a aliança de seu primo, e fez com ele um pacto em 1107, pelo qual o conde D. Henrique se comprometia a auxiliá-lo nas suas pretensões à, coroa, recebendo em troca ou o distrito de Galiza ou o de Toledo, e a terça parte do tesouro. Raimundo, porém. morreu em Outubro desse mesmo ano, D. Sancho pouco tempo depois, e D. Afonso em 1109, ficando D. Urraca legitima herdeira. Diz-se que D. Henrique, vendo o sogro já moribundo, procurou persuadi-lo a que lhe legasse o ceptro, porque não convinha que passasse para as mãos de D. Urraca, apesar da legitimidade da herança, ou para as de D. Afonso, filho do conde Raimundo, criança de três anos. Nada conseguiu, mas os barões castelhanos obrigaram D. Urraca a um segundo casamento, com D. Afonso, rei de Aragão e Navarra, casamento que o papa anulou alegando serem os noivos parentes em grau proibitivo. D. Afonso não se importou com a deliberação do papa, porém D. Urraca, que casara contra vontade, tomou o partido contrário ao do marido, que pretendia despojá-la dos seus estados. Estabeleceu-se a guerra civil, e D. Henrique tomou a defesa da cunhada. Indo depois a Astorga, ali adoeceu e morreu. O seu corpo foi trasladado para Braga, e sepultado numa capela da sé. Em 1512 o arcebispo. D. Diogo de Sousa o transportou para a capela-mor da mesma igreja, onde se tem conservado. Por morte de seu marido, ficou D. Teresa governando o condado de Portucale na menoridade de seu filho D. Afonso Henriques, que apenas contava três anos de idade.
Fonte: Portugal - Dicionário Histórico, Corográfico, Heráldico, Biográfico, Bibliográfico, Numismático e Artístico, Volume III, págs. 900-901.

Foi durante a dominação árabe que os cristãos organizaram as cruzadas. Seguiu para a Lusitânia, com a finalidade de livrá-la das mãos dos mouros, o Conde Dom Henrique, tronco dos reis portugueses; partira de França com cavaleiros, pondo suas armas a serviço de Afonso VI, rei de Leão e de Castela. Tantos serviços prestou à religião e à coroa, que recebeu do rei sua filha D. Teresa, como esposa, e a província ou país de Portugal para administrar.
Afonso Henriques é o primogênito desse consórcio. Morto Afonso VI, os mouros tomaram Lisboa, enquanto o Conde D. Henrique conquistou a cidade de Cintra. Enquanto há revoluções em Espanha, por ocasião da morte do rei de Castela, Portugal vai-se fortificando. Mouros são vencidos e o Conde D. Henrique, sábio administrador e grande guerreiro, recebe o nome de "O Bom".
Morto o Conde, D. Teresa pretendeu casar-se com D. Fernando Perez, mas seu filho, Afonso-Henriques, se opôs. Luta, então, contra a mãe, derrota-a e mais ao exército de D. Afonso VII, de Leão e Castela.
Obtida a vitória, está assegurado o trono de Portugal, que fica independente em 1143, quando, na Conferência de Samora, Espanha reconhece Afonso-Henriques como rei.
Afonso-Henriques é, pois, o fundador da Monarquia Portuguesa. Morreu com setenta e quatro anos, reinou quarenta e seis. Subiu ao trono seu filho D. Sancho I.

Origens da Língua Portuguesa

À facilidade comunicativa entre a comunidade de expressão portuguesa e a comunidade galega acrescentamos o facto de a língua portuguesa ter o seu berço na Galiza medieval, que incluía o território da actual Comunidade Autónoma Galega transcendendo-o ainda amplamente, pelo que parece legítimo reivindicar-se que a Galiza seja reconhecida pelo resto da Lusofonia como membro de pleno direito.
O Português é uma língua nascida no Noroeste da Península Ibérica, que cresceu para sul. Inicialmente um conjunto de dialectos provinciais (galego-portugueses), passou a língua da nação e depois a veículo de um império; hoje, é uma língua transnacional e transcontinental. A autonomização do galego-português a partir do século VII na antiga província romana Gallaecia et Asturica (Galiza, Norte de Portugal, Ocidente e Astúrias) é denunciada por dois fenómenos de mudança fonética que afectam profundamente o seu léxico: palatalização dos grupos iniciais pl-, kl-, fl-, para a africada palatal surda ts-: plicare > tsegar >, chegar; clamare > tsamar > chamar; flagrare > tseirar > cheirar; enfraquecimento e síncope das soantes intervocálicas latinas – n - e - l -: bene > bee > bem; mala > maa > má.
Distinguem-se na história do português dois grandes ciclos: o da elaboração da língua, desenvolvido entre os séculos IX e XV na esteira da reconquista do território dos Árabes; este foi repovoado pelos povos do Norte, que transplantaram a sua língua para o Sul, onde ela se transformou pelo contacto com a língua local e pela mistura, nas novas terras, de dialectos que no Norte se achavam separados. Os dialectos da terra de reconquista são, por isso, mais homogéneos que os seus parentes mais velhos do Norte. Por outro lado, a transferência do poder para o Centro do Reino, com capital em Lisboa, fez que a partir do século XV os novos dialectos falados nessa região ganhassem ascendente sobre os do Norte e fossem a base de uma norma culta de características meridionais, que seria vista como a língua nacional.
As origens da língua escrita vinham do século XII: uma breve Notícia de Fiadores, de 1175, é o documento mais antigo, hoje conhecido, que procura representar a língua que se falava; curiosamente, foi produzido no mesmo círculo em que, por 1196, seria escrita a mais antiga cantiga trovadoresca, Ora Faz Ost'o Senhor de Navarra, de João Soares de Paiva. Depois, vários documentos, entre os quais avultam o Testamento de 1214 do rei Afonso II e a contemporânea Notícia de Torto, atestam do crescente uso do português escrito, até que a partir de 1255 começa a produção regular de documentos escritos em português, seguindo o exemplo da Chancelaria de Afonso III. Ao mesmo tempo, crescia a produção de textos literários (lírica trovadoresca, tradução de novelas francesas de cavalaria, literatura de espiritualidade), graças aos quais é possível observar as mudanças que a língua sofreu e que, por graduais transições, a levaram a transformar-se na língua clássica. As principais mudanças são: no plano fonético, eliminação de hiatos, convergência para o ditongo –ão das terminações nasais em –õ, -ã e –ão hiático, elevação para –u do –o final átono dos nomes, queda do – d – intervocálico na segunda pessoa plural dos verbos (amades > amaes > amais), início da redução para duas do sistema de quatro sibilantes; no plano morfológico, regularização de paradigmas verbais (substituição de formas irregulares por formas analógicas) e nominais (mudanças de género); no plano lexical, entrada de cultismos por relatinização.
O segundo grande ciclo da história do português consiste na expansão da língua: o período de finais do século XIV a inícios do século XVI é aquele em que a língua mais radicalmente se transfigura. Enquanto se reestruturava e consolidava dentro de portas, a língua portuguesa começa a expandir-se para fora da Europa, pelo que, a partir de aqui, é preciso distinguir entre português-europeu e português extra-europeu.
Português-europeu: o léxico enriquece-se por vários motivos: contacto com línguas exóticas, importação de cultismos latinos e gregos, adopção do castelhano como segunda língua literária. Afirma-se um padrão nacional, descrito pelos gramáticos. Os dialectos distribuem-se segundo um mapa muito semelhante ao moderno. Quanto a estruturas linguísticas, registam-se, a partir do século XVIII, a fixação da ênclise enquanto posição regular dos pronomes pessoais átonos, a elevação das vogais fechadas e e ou em posição pré-tónica, que passam a ser pronunciadas como e mudo e como u e que, hoje, chegam mesmo a desaparecer, em forte contraste com a fonética brasileira; nos dialectos europeus do Centro e Sul de Portugal, simplificação da africada ts em s e palatalização do –s final de palavra e sílaba; na região de Lisboa, centralização do ditongo ei em âi. O som do português europeu não sofreu, depois disto, alterações significativas.
Português extra-europeu: fora da Europa, o português teve dois tipos específicos de actuação, logo a partir do século XVI: transplantou dialectos de Portugal para territórios como o Brasil, a África e a Ásia e aí teve desenvolvimentos próprios, chegando aos nossos dias com plena vitalidade nos dois primeiros espaços e em estado de relíquia no último (um dos principais problemas da linguística do português consiste em determinar se as diferenças que se detectam entre as variedades portuguesa e brasileira devem ser encaradas a nível de norma ou a nível de sistema); ao longo do litoral africano e asiático, o português associou-se a línguas locais para produzir pidgins e crioulos, possivelmente segundo uma matriz única (o proto-crioulo português), que explicaria semelhanças entre línguas que nunca estiveram em contacto. Este processo deu, como resultados modernos, a situação linguística de Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e certas áreas do Índico e da Oceania, onde predominam crioulos de base portuguesa. Este processo de crioulização também ocorreu no Brasil, mas uma maciça imigração europeia, constante desde o século XVI até ao XX, levou a que o português prevalecesse sobre os crioulos. O mesmo aconteceu em Angola e em Moçambique, com a imigração dos séculos XIX e XX.
Fonte : Entrada "Língua Portuguesa" - por : I.Ca. Dicionário Temático Da Lusofonia Texto Editores (www.textoeditores.com)

O português, antes e depois de Luís Camões

A língua portuguesa tem 800 anos. Sua História remonta ao século XII, quando dom Dinis fundou a Universidade de Coimbra, promovendo o desenvolvimento cultural de Portugal. " Esse rei-trovador ordenou que fosse usada a língua portuguesa nos documentos públicos, substituindo a língua oficial latina", escreve Elis de Almeida Cardoso. Só no século XIV, no entanto, o português se tornaria a língua de Lisboa. Nessa época, o galego (que tem semelhança com o português e é falado na Galiza, região da Espanha ao norte de Portugal) começa a ser visto pelos portugueses como língua arcaica. É nesse eixo Coimbra -Lisboa que o português moderno vai se constituir. A divisão da língua portuguesa entre arcaica e moderna se dá em 1572, com a publicação de Os Lusíadas, de Luís Camões.
Fonte : A Língua que falamos, de Susana Herculano - Houzel; págs. 75 a 89

Trabalho e pesquisa de Carlos Leite Ribeiro – Marinha Grande - Portugal

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